Senhor Jesus dos Navegantes
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1.º fim de semana de setembro
(foto: Carlos Duarte)
O Senhor Jesus dos Navegantes é, compreensivelmente, uma das festas religiosas mais emblemáticas em Ílhavo, com uma impressionante procissão e tendo como ponto fulcral a Igreja Matriz de Ílhavo. Lembram-se os “navegantes” ilhavenses e as embarcações naufragadas em séculos de História.
Um pouco de história...
O culto original seria ao Senhor Jesus, e a origem do mesmo não seria marítima. No entanto, “se validarmos a informação das fontes documentais e a origem não marítima do culto ao Senhor Jesus, confirma-se um período de transformação do Senhor Jesus em Senhor Jesus dos Navegantes, situado entre meados do séc. XIX e inícios do séc. XX. Esta transição foi operada pela mudança das realidades históricas, que impeliram Ílhavo para o mar e para a pesca longínqua, e que significaram um predomínio de pescadores e capitães no grupo dos devotos. O novo nome, que teria uma origem popular, representaria também a maior proximidade dos pescadores e marítimos da organização das festividades a par da anterior custódia paroquial.” (Fidalgo, J. & Silva, P. (2017) . Senhor Jesus dos Navegantes: vocação marítima na identidade ilhavense)
Esta mutação da devoção do Senhor Jesus para Senhor Jesus dos Navegantes foi sublinhada pela inclusão, a partir de 1923, da miniatura do lugre Navegante no andor da procissão, sendo a miniatura um ex-voto, a representar o domínio da temática marítima no pagamento das promessas.
No quadro ideológico do Estado Novo em torno da “Campanha do Bacalhau” o Senhor Jesus dos Navegantes assumiu um papel importante, desde logo na inclusão da sua imagem nas cerimónias nacionais da bênção dos bacalhoeiros em 1943, 1948 e 1953. A bênção de 1943, presidida por D. Manuel Cerejeira, foi precedida de uma missa no mosteiro dos Jerónimos e de uma procissão dos pescadores até ao Padrão dos Descobrimentos, a então chamada “Festa do Mar”, na qual participaram os pescadores, e suas imagens de devoção, incluindo o Senhor Jesus dos Navegantes.
O culto ao Senhor Jesus dos Navegantes realiza-se anualmente no primeiro fim de semana de setembro e durante os quatro dias do decurso das celebrações sucedem-se um conjunto de ritos religiosos nos quais se pagam promessas e se procede à bênção das atividades marítimas. No último dia das celebrações decorre na igreja o ato litúrgico designado por Missa de Sufrágio, em que são relembrados os marítimos falecidos. “Quem não rema, já remou!” - expressão usada em memória dos que já partiram e que reforça a ligação que a comunidade tem em relação ao mar.
A Paróquia de Ílhavo (ou de São Salvador), são detentoras de um elevado número de “ex-votos”, que podem ser quadros votivos, partituras musicais, paramentos ou quaisquer outras oferendas ao orago, por salvamentos que resultaram de naufrágios associados à pesca (do bacalhau), atualmente em exposição no Centro de Religiosidade Marítima de Ílhavo.
Centro urbano de Ílhavo
1º fim de semana de setembro