Roteiros Arte Nova
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Linhas sinuosas que envolvem elementos florais, aves e insetos estilizados, figuras femininas com cabeleiras ondulantes, que se entrelaçam com os elementos naturais, à procura da perfeita da aliança entre forma e função e influências orientais, são algumas das características da Arte Nova, estilo que frequentemente pode ser encontrado em edifícios dispersos pelo Município de Ílhavo. Venha descobrir azulejos, portões em ferro forjado, vidraças coloridas, escadarias e uma panóplia de outros elementos arquitetónicos repletos do espírito “belle époque”!
A simbiose Artesão Artista, tão característica do movimento Arts & Crafts, de que a Arte Nova é herdeira, só poderia ter um bom acolhimento no local de origem da Fábrica da Vista Alegre, que, ao longo dos dois últimos séculos, aqui reuniu artistas nacionais e estrangeiros de elevada qualidade.
Também as viagens dos capitães do bacalhau a outros pontos do globo terrestre, e o seu gosto pelo moderno, aliado ao carácter pragmático dos Homens do Mar, favoreceram a aquisição do gosto por este estilo, em inícios do século XX.
Por estas duas razões, e também pela tradição local e regional no domínio da produção e pintura cerâmica, não é de estranhar esta profusão de elementos incluídos nos edifícios do início desse século, por vezes até combinados com influências de outros estilos arquitetónicos e artísticos.
Recomendamos-lhe que, vivamente, se deixe embrenhar nesta estética arrojada e encantadora.
Centro histórico de Ílhavo
(início na Rua Cimo de Vila, e, a partir daí, para as ruas Arcebispo Pereira Bilhano, Serpa Pinto, rua d'O Ilhavense ou, em alternativa, rua João de Deus e terminando na Rua Ferreira Gordo)
Coordenadas: 40º 60' 12.74'' N, 8º 67' 07.66'' O. Este roteiro demora, a pé, cerca de 15 minutos a ser realizado, tendo cerca de 1 km.
Dois dos mais belos e completos exemplares de edificado Arte Nova no Município de Ílhavo encontram-se na Rua Cimo de Vila - a Vila Maia e a Vila Paredela, ambos constituíndo-se como conjuntos harmoniosos decorativos e incluíndo uma grande diversidade decorativa: azulejo, ferro forjado, muros, vidraças e até madeiras.
Daí segue-se para a rua Arcebispo Pereira Bilhano, claramente urbana, onde, além dos diversos exemplares mais relevantes, nos números 152, 101-103, 97-99 ou 20-35, onde nos deparamos com a retrosaria "A Tricana", outros edifícios existem onde elementos deste estilo se encontram aplicados. N'a Tricana, atente nos painéis de azulejos representando profissões tradicionais da região e pintados por um emblemático pintor da região...
No largo da Igreja Matriz pode também apreciar-se um outro edifício emblemático Arte Nova, pela sua cor - vermelha, volumetria e harmonia cromática, no nº 1 da rua João Carlos Gomes e, passando pela rua d'O Ilhavense ou pela rua João de Deus, ambas representando o centro urbano ilhavense, pleno de azulejo, chegue à Rua Ferreira Gordo onde se deparará com um pequeno edifício de habitação verde com aplicações Arte Nova muito emblemáticas, em especias na fachada, em excelentes exemplo da aplicação da "linha de chicote" e de alguns (poucos) azuljejos que restam.
Eixo viário correspondente à antiga Estrada Nacional 109
(Ruas Domingos Ferreira Pinto Basto, de Camões, com pequeno desvio para a Rua de Frederico Cerveira, e daí voltando às ruas de Santo António, Vasco da Gama e Ribas)
Coordenadas: 40º 59' 37.82'' N, 8º 67' 43.82'' O
Este roteiro deve ser realizado no sentido sul-norte, para melhor aproveitar da disposição dos edifícios, demorando, a pé, cerca de 35 minutos a ser realizado.
Na Rua Domingos Ferreira Pinto Basto, a Vila Marítima (número 94) inicia o roteiro com um belo painel azulejístico e com os trabalhos de ferro forjado nos varandins do 1º piso. Ainda na mesma rua as duas Vilas Papoila (Magano e Cruz), de 1933, são dois belos exemplares da aplicação azulejística Arte Nova (números 12 e 14). Os tons rosados e dourados bem como os liláses, tão característicos do estilo, conferem exuberância azulejística aos edifícios, complementados pelos gradeamentos, portões e até formato do alpendre e escadarias. Dois edifícios insólitos e harmoniosos.
O edifício da Vila Vieira, onde funciona atualmente a Junta de Freguesia de São Salvador, enquadra-se numa linguagem arquitetónica eclética de finais do século XIX e inícios do século XX, tendo sido construído na década de 30 deste século. Aqui, mescla-se a arquitetura tipo colonial, a arquitetura popular portuguesa (tipo portuguesa suave), e também elementos decorativos em Arte Nova. Terá servido de habitação a João Fernandes Vieira, figura bem identificada na sociedade local e vereador por alguns anos na Câmara Municipal de Ílhavo, mas também, por longos espaços de tempo, radicado na América do Sul e recuperado em 2015 pela Câmara Municipal de Ílhavo para instalação da junta de freguesia.
Já na Rua de Santo António, apreciem-se os números 19 (em especial os trabalhos de ferro forjado e a decoração no 1º piso), o antigo Cinema Texas, no número 26 (aguardando reabilitação) e que apresenta elementos escultóricos na fachada (grinaldas) bem característicos deste estilo, ou ainda o edifício verde no número 64, onde as janelas são entalhadas com as "linha de chicote" tão características deste estilo.
Na Rua Vasco da Gama, está prestes a chegar a um dos expoentes máximos da Arte Nova no Município de Ílhavo (nº 135) - a Vila Africana. Classificada como Imóvel de Interesse Público, desde 2014, juntamente com o belíssimo conjunto formado com os jardins e muro envolvente, este icónico edifício de habitação, erigida entre 1907 e 1908, com projeto do pintor e decorador aveirense José de Pinho, destaca-se pela sua arquitetura de caráter erudito, cujo traçado equilibrado suporta uma diversidade de jogos volumétricos, pela exuberância decorativa da fachada principal e pelo notável conjunto de cantarias trabalhadas que exibe, a par dos emblemáticos azulejos policromos de temática variada.
Não menos importante, ainda que aguardando reabilitação, a Casa dos Cestos, os seus jardins e muro envolvente, monumento de interesse público desde 2013, que é também uma das mais monumentais e singulares exemplares Arte Nova da Região Centro, destacando -se pela peculiar exuberância arquitetónica e coerência construtiva, pela qualidade dos materiais, pelo admirável conjunto de motivos decorativos e pelos sumptuosos interiores burgueses, a que também não é alheia a influência do movimento da "casa portuguesa" protagonizado por Raul Lino durante a época do Estado Novo.