fotografias: AveiroMag2021

Datando do século XVIII, a Quinta, ou Solar do Paço da Ermida é constituída pelos jardins, dependências e por um solar apalaçado. Na propriedade, que é atualmente uma residência particular, existe uma Araucária de Norfolk (Araucaria heterophylla (Salisbury) Franco) classificada como árvore de interesse público em 1994 e que ultrapassará atualmente os dois séculos de existência. Destaque-se ainda um pomar de laranjeiras e o que resta dos antigos currais, vacaria, cavalariça, celeiros e várias azenhas abandonadas (Lau, A.R..2021. AveiroMag). Existe também uma ermida, ou capela, que dá o nome à localidade - "Ermida", possuindo uma pequena torre sineira, à esquerda, e, à direita, uma ponte em arco que a liga diretamente à quinta.

A propriedade foi mandada construir por Rui de Moura Manuel, no século XVII, irmão do bispo de Miranda do Douro, que se encontra sepultado, num túmulo que é monumento nacional, na Capela da Vista Alegre, a alguns quilómetros de distância, na localidade da Vista Alegre. Em 1727, Jerónimo António de Castilho, neto de Rui de Moura Manuel, vende-a a Zeferino Rodrigues Candello. 

Terá sido adquirida em 1812, por José Ferreira Pinto Basto, que adquiriu também em 1816 em hasta pública, a capela da Vista Alegre (em honra de Nossa Senhora da Penha de França). Aí terá residido, a partir de 1885, Alberto Ferreira Pinto Basto, que reedificou e ampliou o edifício, dando-lhe a sua atual configuração. Alberto Ferreira Pinto Basto haveria de ser presidente da Câmara Municipal de Ílhavo entre 1890 e 1892. Em 1895 o Município de Ílhavo foi anexado ao de Aveiro, num novo código administrativo que visava harmonizar as circunscrições administrativas e judiciais. A onda de protestos foi avassaladora e Alberto Ferreira Pinto Basto haveria de fazer-se eleger, juntamente com outros vereadores ilhavenses, em maioria, nas eleições municipais de 1896 a 1898, para a Câmara Municipal de Aveiro, a partir de onde lutaram pela restauração da municipalidade de Ílhavo, tendo a mesma acontecido em 1898. Os seus dois filhos - Alberto e Sara, nascem na Quinta do Paço da Ermida em 1903 e em 1905 e ela haveria de novamente ser presidente da Câmara Municipal de Ílhavo entre 1908 e 1910, altura em que se afasta, com a instauração da República em Portugal (Silva, Pedro. (2017) Alberto Ferreira Pinto Basto: 1861-1929. Ílhavo: Câmara Municipal de Ílhavo, Nossa gente: Biografias; 2).

Foi, durante cerca de dois séculos, propriedade da família Pinto Basto. Foi residência particular, casa de férias e empreendimento de turismo de habitação. Em 2013, a capela da Ermida, integrada na propriedade, é doada ao Município de Ílhavo para uma urgente intervenção de restauro, já que se encontrava encontrava em elevado estado de degradação. Terá sido construída em 1904 e devotada a Nossa Senhora do Rosário. Cinco anos depois, os herdeiros dos Pinto Basto vendem a propriedade que passa a estar sob a um empresário local do ramo cerâmico, que, atualmente, se concentra na sua recuperação.

Voltando a um período em que o solar não existia ainda, à Idade Média em Ílhavo, a Ermida deverá ter sido uma zona importante, "prendendo-se com as referências historiográficas e documentais à Ermida / Igreja de São Cristóvão e ao forno referido também na documentação como "fornum tegularium". O couto da Ermida que pertenceria inicialmente à "(...) mitra episcopal de Coimbrã (...)" teve concelho próprio até meados do século XIX, sendo que, como Saul Gomes refere, era um concelho "(...) de reduzido termo - apenas o "corpo da vila" e duas azenha ao Soelhal (...) no Censo de 1527 (Carvalho, J., Ramos, R., Silva, A.R.. (2019). Ílhavo, Terra Milenar, Do paleolítico à atualidade: herança arqueológica. Município de Ílhavo, ERA - Arqueologia S.A.). Na Ermida teria existido uma ermida devotada a São Cristóvão, e, posteriormente, a São Tiago (1721), e só posteriormente haverá se ser o orago da localidade a Nossa Senhora do Rosário.